segunda-feira, 15 de junho de 2009

Desenvolvimento moral

Desenvolvimento moral

Tem um menino na escola que trabalho que foi meu aluno no segundo ano no ano passado, é um menino bem pobre e com dificuldades nos relacionamentos, nem a mãe respeitava.
O menino saiu da escola antes de terminar o ano e agora voltou adotado por outra família. Antes pensava que o motivo de sua agressividade é por ser pobre, ao ler sobre Piaget percebi que este tipo de pensamento é de concepção empirista, crença que apenas o ambiente que determina o sujeito.
“Podemos dizer que a primeira crença está ligada a uma concepção de que o ambiente imprime na pessoa o modo de ser e de se comportar, isto é, uma concepção empirista, acreditando que há uma pressão das coisas sobre o espírito e considerando a experiência como algo que se impõe por si mesmo, não havendo necessidade da atividade do sujeito (Piaget, 1987).” Significações de violência na Escola: Equívocos da compreensão dos processos de desenvolvimento moral na criança?, de Jaqueline Picetti. Pág 2
Atualmente este menino está em uma família de classe média, se veste bem, não passa necessidade e tem conforto, vive em um ambiente tranqüilo, mas o comportamento é o mesmo, isto é a prova de que o que determina o sujeito não é só o ambiente, poderia pensar que tudo já está programado geneticamente, por isso não adianta investir neste indivíduo porque tudo já está determinado, de acordo com Piaget esta é uma concepção Apriorista.
“A segunda crença está relacionada com uma concepção de que a pessoa traz consigo, a partir da constituição de sua família (geneticamente), as características de sua personalidade, não havendo possibilidades de mudança, pois tudo já está determinado. Essa seria uma concepção inatista, que considera que o conhecimento é concebido como algo que mergulha suas raízes no sistema nervoso, isto é, na estrutura pré-formada do organismo (Piaget, 1987).” Significações de violência na Escola: Equívocos da compreensão dos processos de desenvolvimento moral na criança?, de Jaqueline Picetti. Pág 2
De acordo com Piaget vários fatores podem contribuir para este comportamento que na maioria das vezes são interpretados como violência sem procurarmos conhecer mais sobre a fase de desenvolvimento em que a criança se encontra e seu modo de pensar.
“É possível afirmar que as crianças dos anos iniciais do Ensino Fundamental (7 – 1 anos) estão construindo as noções de justiça, solidariedade, intencionalidade e responsabilidade.” “Significações de violência na Escola: Equívocos da compreensão dos processos de desenvolvimento moral na criança?”, de Jaqueline Picetti,Pág 3
“Piaget (1994) observou que, até em torno dos dez anos, os atos são avaliados segundo seus resultados, independente das intenções.” Pág 3
“Podemos ver que o que muitas vezes parece ser o desenvolvimento de uma onda de violência na escola, nada mais são que crianças querendo fazer justiça sob sua forma de compreendê-la.” Pág 3
Após esta leitura refleti sobre a fase de desenvolvimento que esta criança se encontra, que é Operatório concreto, tem 10 anos e está construindo noções de justiça, responsabilidade intencionalidade.
“No período das Operações concretas, que tem idade aproximada de 7 a 12 anos, a criança já tem capacidade de reversibilidade do pensamento, já é capaz de realizar operações mentais, é capaz de cooperar porque não confunde seu próprio ponto de vista com o doa outros, discussões torna-se possíveis.
São construídas operações lógicas de classificação e seriação, conservação física de substâncias, peso, volume e conservações espaciais de comprimento, área e volume espacial, conceito de número. Neste período o real é que define suas possibilidades.” Epistemologia genética e construção do conhecimento”, de Tânia Marques.

Para que o sentimento de justiça se desenvolva são necessários o respeito mútuo e a solidariedade entre crianças e adultos. Que respeito mútuo este menino aprendeu se via a mãe biológica brigar nos ambientes que freqüentava , falar palavrões e seu relacionamento em casa era de discussões frequentes? Como será que é sua forma de compreender justiça? Será que ao brigar não está pensando que está fazendo justiça ao se defender e defender suas idéias ao invés de ver como violência?
Não pensava antes nestas questões, esta leitura me ajudou a procurar conhecer melhor as crianças ao invés de julgá-las como violentas.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Conservação do número

Todos os anos aplicava o teste da Conservação do número com meus alunos tendo como base apenas as observações de colegas e achava que sabia aplicar bem o método sem ao menos estudar.
Quando a professora solicitou que estudássemos sobre o Método Clínico, de Jean Piaget para aplicar o Método Clínico com uma criança, li superficialmente sobre o assunto e me senti preparada.
Eu e a colega Margarete escolhemos uma aluna minha e no momento encontrei algumas dificuldades. A primeira foi o barulho, pois tanto a aluna como nós perdíamos a concentração em alguns momentos devido o barulho ao redor, concluímos que podíamos ter escolhido um lugar mais calmo. Antes ao fazer o teste da Conservação do número não prestava atenção as atitudes dos alunos, apenas anotava suas respostas, desta forma não fazia diferença se o lugar era calmo ou não.
A segunda dificuldade foi não saber contra-argumentar ou explorar as respostas que a aluna trazia, eu poderia ter estudado mais os subsídios teóricos para entrevistar . Antes, ao aplicar o teste, não intervia nas respostas dos alunos, apenas anotava suas respostas.
“ O bom experimentador deve, efetivamente, reunir duas qualidades aparentemente incompatíveis: saber observar, deixar a criança falar, não desviar nada .Deve saber buscar algo preciso, ter a cada instante um hipótese de trabalho, uma teoria verdadeira ou falsa para controlar”.PIAGET, J. A representação do mundo na criança”. Rio de Janeiro: Distribuidora Record, p.11
Percebi que antes das leituras não sabia aplicar o teste da Conservação do número e pensava que tinha conhecimento suficiente, agora sei que é impossível ter conhecimento de algo só em ouvir o que os outros falam, é preciso estudo.
Atualmente sou consciente de que não sei tudo sobre o método e que tenho muito o que aprender, para isto é necessário estudar mais intensamente !!!

Os índios

Todos os anos trabalho sobre os índios na escola no dia 19 de Abril, algo bem superficial como uma música de índio, confecção de cocar, diálogo sobre sua cultura...
Ao ler o texto “ Os índios no Brasil, quem são e quantos são”, de Gersen Dos Santos Luciano, me chamou atenção alguns trechos como:
“O navegador italiano Cristóvão Colombo, em nome da Coroa Espanhola, empreendeu uma viagem em 1492 partindo da Espanha rumo às Índias, na época uma região da Ásia. Castigada por fortes tempestades, a frota ficou à deriva por muitos dias até alcançar uma região continental que Colombo imaginou que fossem as Índias, mas que na verdade era o atual continente americano. Foi assim que os habitantes encontrados nesse novo continente
receberam o apelido genérico de “índios” ou “indígenas” que até hoje conservam.” Pág 2.
“Antes da década de 1970, chamar alguém de índio, fosse ele nativo ou não, era uma ofensa.” Pág 3.
“Eles foram forçados a abdicar de suas culturas, tradições, de seus valores e saberes porque eram considerados inferiores, satânicos e bárbaros (ou seja, eram considerados como sinônimo de atraso, o que os impedia de entrar no mundo civilizado, moderno e desenvolvido) e para poderem se tornar gente civilizada, moderna e desenvolvida” Pág 5
“O processo de reafirmação das identidades étnicas, articulado no plano estratégico pan-indígena por meio da aceitação da denominação genérica de índios ou indígenas, resultou na recuperação da auto-estima dos povos indígenas perdida ao longo dos séculos de dominação e escravidão colonial. O índio de hoje é um índio que se orgulha de ser nativo,
de ser originário, de ser portador de civilização própria e de pertencer a uma ancestralidade particular.” Pág 4
“Os povos indígenas são grupos étnicos diversos e diferenciados, da mesma forma que os povos europeus (alemão, italiano, francês, holandês) são diferentes entre si. Seria ofensa dizer que o alemão é igual ao português, da mesma maneira que é ofensa dizer que o povo Yanomami é igual ao Guarani. ” Pág 6
“Entrar e fazer parte da modernidade não significa abdicar de sua origem nem de suas tradições e modos de vida próprios, mas de uma interação consciente com outras culturas que leve à valorização de si mesmo.” Pág 5
Na leitura aprendi algumas curiosidades sobre os índios e percebi que mesmo inconscientemente estava desvalorizando esta cultura ao deixar de trabalhar ou até mesmo trabalhando superficialmente na sala de aula.
Nunca falei das lutas que enfrentaram e até hoje muitos enfrentam, da tristeza ao sofrerem discriminação, da perda da identidade, das diferenças entre os povos...
Através desta leitura refleti e estou consciente da importância de trabalhar esta etnia valorizando sua cultura, concluo com um pensamento do texto “ Os índios no Brasil, quem são e quantos são”, de Gersen Dos Santos Luciano:
“Ora, identidade implica a alteridade, assim como a alteridade pressupõe diversidade de identidades, pois é na interação com o outro não-idêntico que a identidade se constitui.”