segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Alfabetização e letramento

Quando comecei a trabalhar no município de Esteio, tive minha primeira experiência com alfabetização, já havia lido o livro Psicogênese da língua escrita, de Emília Ferreiro e Ana Teberoski e me encantado com as hipóteses sobre a leitura e escrita, sobre os níveis que as crianças passam até serem alfabetizadas. Foi quando tive minha primeira experiência com alfabetização que fui me deparar na prática com a realidade descrita no livro, hipóteses como poucas letras não servem para ler , muitas letras corresponderem a objetos grandes e poucas a objetos pequenos, escreverem uma letra para cada sílaba, após conflito para o Silábico-alfabético, enfim várias etapas até estarem alfabetizados.
No segundo semestre ouvi falar sobre letramento, pensava que se estava alfabetizado já era automaticamente letrado e percebi nas leituras que uma pessoa pode nem estar alfabetizado e ser letrado, então surgiram trocas de idéias com colegas de trabalho e faculdade a respeito do que é ser letrado e para a minha surpresa pessoas com formação em pedagogia não sabiam a resposta a minha inquietação.
De acordo com a síntese dos dois primeiros capítulos (O que é Letramento? E O que é Letramento e Alfabetização) do livro: SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Autêntica: Belo Horizonte, 2001:

“Um sujeito letrado é aquele que se envolve em práticas sociais de leitura e escrita.
Uma criança, que mesmo ainda não dominando a técnica da leitura e da escrita, folheia livros, jornais, revistas... finge lê-los, brinca de escrever, escuta histórias lidas por outro, está rodeada de material escrito e percebe seu uso e função, pode ser considerada letrada, pois já entrou no mundo do letramento. Embora, seja considerada analfabeta, pois ainda não aprendeu a ler e escrever.
Uma pessoa letrada é aquela que, além de aprender a ler e a escrever, faz uso dessa aprendizagem, envolve-se em práticas sociais de leitura e escrita. Acredita-se que, essa pessoa, ao tornar-se letrada, muda seu lugar social, seu modo de viver na sociedade, sua inserção na cultura, sua forma de relacionar-se com as outras pessoas, com o contexto etc. Esse processo de letramento pode trazer ao sujeito conseqüências lingüísticas, conforme já mostraram algumas pesquisas: uma pessoa letrada fala de forma diferente de uma iletrada ou analfabeta; depois de concluído o processo de letramento, há adultos que passam a falar de maneira diferente, demonstrando que o convívio com a língua escrita pode ter como conseqüências mudanças na língua oral, nas estruturas lingüísticas e no vocabulário.
... aprender a ler e escrever significa adquirir uma tecnologia, a de codificar em língua escrita e decodificar a língua escrita; (...) um indivíduo alfabetizado não é necessariamente um indivíduo letrado; alfabetizado é aquele indivíduo que sabe ler e escrever; já o indivíduo letrado, o indivíduo que vive em estado de letramento, é não só aquele que sabe ler e escrever, mas aquele que usa socialmente a leitura e a escrita, pratica a leitura e a escrita, responde adequadamente às demandas sociais de leitura e escrita. (p. 39 e 40)
Pode-se assim afirmar que, letramento é a condição de quem interage com diferentes portadores, gêneros, funções e tipos de leitura e escrita na vida.
A preocupação, nos dias de hoje, não deve centrar-se apenas em ensinar a ler e a escrever, mas também, e sobretudo, levar as pessoas a utilizarem a leitura e a escrita, envolvendo-se em práticas sociais dessas."
A partir da leitura destes textos qualifiquei mais minha prática docente, percebi que não basta ensinar a ler e escrever, mas trabalhar diferentes portadores de textos e criar estratégias diversificadas para que a leitura e escrita seja algo prazeroso, significativo e não apenas algo a mais que deve-se aprender na escola.

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